quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Paraíso do nada

@A


Aqui tudo é o que foi, tudo será o que é.

Os ponteiros do relógio são marcados pelo pequeno rato que morreu preso na persiana da tia Alexandra. Quando reparei, estava intacto, como se dormisse. Todas as vezes que voltei era ele a primeira coisa que queria ver... Hoje nem os ossos frágeis restam e eu continuo a voltar.
Tudo o resto fica, tudo o resto permanece.

Os passos que dei outrora são agora marcas no solo pobre, tal como a pedra que atirei ou o ramo que transportaste durante horas como se fosse o teu maior troféu... Tudo se mantém, tudo é passado e eu continuo a voltar.
Volto para o conforto do conhecido e deixo-me estar durante... sob o olhar atento daqueles que testemunham os meus regressos.

Pergunto-me: Agora que o pequeno rato desapareceu, ainda haverá tempo neste espaço?

...S

...

@S

...de quantos precisamos para nos sentir seguros?
...quantos precisam ser transpostos para nos (re)conhecermos?
...quantos se abrem e fecham num segundo mostrando-nos um paraíso inatingível?
...será esse segundo suficiente?
Preciso de chaves...
...já mas deste?
será que as perdi?...
...S

Passeio

@S


Fui ao entardecer no campo.
Ofegante pela partida, desvanecida à chegada.
Deitei-me no chão por arar... E como é macio o meu estrado. Desço os dedos sobre a terra. Não me ouço e estou bem. Ao redor o barulho é intermitente. Um pouco de pássaro que volta, um pouco de cão que avisa.


Qual o sentido do sol?
Não o escuto, a não ser quando a areia e a água me invadem a boca.
Não o cheiro a não ser quando as espigas se espraiam pelo vento.
Não o toco, apesar de a minha mão se aquecer quando toco no teu rosto pela manhã.
Como a matéria a que dá vida mas não sei a que sabe.
Só o vejo e ainda assim não lhe chego para o definir.
Os ramos tingem-se de preto no teu adeus. Todos se resguardam.
E na tua descida lá se vai o meu último pensamento.


Amanhã falamos melhor.


...A